Ei, Gente! :)
Essa semana começa mais uma edição da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. E é muito legal conhecer de pertinho autores de fora, mas o contato com os escritores nacionais é tão incrível quanto.
Por falar nisso, o post do dia é uma entrevista com a autora brasileira, a Lu Piras, que escreveu “A Caixa de Música“, pela V&R Editora. Dentre outras histórias também. Dessa vez, ela não vai conseguir ir ao evento, mas topou bater um papo com a gente aqui no PJ.
Bom para conhecer um pouco sobre ela, sua carreira literária, novidades, seus livros – que a propósito, vão marcar presença na Bienal. Então, bora lá? Com vocês, a Lu Piras, diretamente da França. ♥
1. Você mora fora do Brasil, né? Sente alguma diferença no mundo literário entre os dois países? Por exemplo, “aqui na França as pessoas leem mais, ou menos” ou “sinto que no Brasil, os autores são mais valorizados”. Se sim, quais são as diferenças? :)
R: Moro fora do Brasil há 22 anos, com alguns intervalos ao longo desse tempo. Já vivi em Portugal, na Austrália e, há sete anos, moro na França e trabalho na Suíça. Quando ainda estava no Brasil, era muito ativa no meio literário: participava das bienais do Rio, São Paulo e Belo Horizonte, além de diversos eventos e grupos voltados à promoção da literatura nacional. Dava palestras, visitava escolas e respirava esse universo.
Adoraria ver meus livros atravessando fronteiras e experimentar o mercado literário aqui fora. Tenho amigos escritores que publicaram na Europa, por exemplo, e percebo — na minha perspectiva pessoal — que não há a mesma união e paixão que encontrei no Brasil. Ainda assim, onde há brasileiros que amam literatura, há também o desejo de reunir a galera e celebrar a cultura. Tanto que, há cerca de quatro anos, fui até premiada em um evento literário brasileiro aqui na Suíça.
É muito emocionante, também, ver pequenas editoras brasileiras surgindo e marcando presença no Salão Internacional do Livro de Genebra. Já visitei o evento e fiquei tocada ao ver livros em português ganhando espaço por aqui. Mas, falando a partir da minha vivência, o ambiente — no sentido da paixão literária — é diferente. O público sai carregado de livros, sim, mas não sai carregado de expectativa como vejo nas bienais brasileiras. Lá, cada fila, cada abraço em autor, cada história compartilhada tem uma intensidade única.
Isso não quer dizer que se leia mais no Brasil. Por aqui, vejo pessoas com livros nas mãos em todos os cantos — no avião, no metrô, no trem, nas praças e parques. Como no Brasil, há muitos eventos de autógrafos e feiras literárias, e é comum ver filas se formando para prestigiar autores. Isso sempre me anima. Essa valorização da literatura não é, claro, um fenômeno restrito ao Brasil, mas a emoção que compartilhamos entre brasileiros é diferente. Há paixão, há orgulho — sempre tem um leitor que chega com uma história, e o autor pensa: “É por isso que eu faço o que faço.“
2. De alguma forma, as profissões escolhidas por você se entrelaçam? Como escritora e cravadora de joias, por exemplo.
R: Como escritora, tenho a sorte de viver muitas vidas — não apenas na ficção, por meio dos meus personagens. Minha própria trajetória já seguiu caminhos bastante diversos, movida por uma busca incessante: inspirar minha escrita e, ao mesmo tempo, sustentar meu propósito de viver da literatura.
Essa busca nasce de uma inconformidade profunda e de uma aversão constante à estagnação. Estou sempre me desafiando, explorando, tentando viver intensamente cada experiência. Entedio-me com facilidade; preciso encontrar algo interessante em tudo o que faço para me dedicar de verdade. E, quando percebo que já esgotei aquilo que havia para explorar, sinto a necessidade de sair da zona de conforto — essa mesma zona que, paradoxalmente, persigo e que acaba, por vezes, me aprisionando.
Todas as profissões pelas quais passei — inclusive a mais recente, como cravadora de joias — me conectam à minha arte. Porque a arte está em mim e em tudo o que faço. Está no meu olhar, na maneira como vejo a vida e, sobretudo, como enxergo as pessoas. São elas minha verdadeira inspiração: as histórias reais, as que eu gostaria de viver, as que eu desejaria que fossem escritas.
Cada profissão, em seu tempo e por quanto tempo foi necessária, me ofereceu exatamente a inspiração que eu precisava.
3. Conte um pouco sobre a sua trajetória no mundo literário.
R: Quando voltei de Portugal, estava decidida a começar uma nova carreira e, em 2009, ingressei na faculdade de Produção Editorial da UFRJ. Após quase três anos de estudos, acabei não concluindo a formação, mas escrevi um livro.
Desde então, publiquei sete obras (seis romances e uma coletânea), começando por “Equinócio – A Primavera“, primeiro volume de uma trilogia que chegou às livrarias em 2012. Até hoje, recebo mensagens de leitores pedindo o volume final da saga, que já está escrito, mas ainda precisa de uma boa revisão. Na época, conheci o universo da blogosfera (as redes sociais como o Instagram ainda não haviam explodido) e passei a participar de feiras literárias, bienais e projetos de incentivo à leitura, com visitas a escolas e palestras. Fui membro de três grupos literários e viajei pelo Brasil promovendo literatura.
Depois vieram “A Última Nota“, “Polaris – O Norte” (segundo volume da trilogia Equinócio), “Um Herói Para Ela“, “O Livro Delas” (com o conto A Voz do Coração), “Além do Tempo e Mais Um Dia” e “A Caixa de Música“.
Meus livros passaram pelas mãos de renomados agentes literários e editores — e tive a sorte de contar com profissionais incríveis, com os quais aprendi muito ao longo do caminho.
4. O que te inspirou a escrever “A caixa de música”? E o que os leitores podem esperar dessa história?
R: Esse livro, o mais recente a ser publicado, foi um imenso divertimento para mim, porque reúne tudo o que eu sempre buscava nos romances sobre viagem no tempo — e sentia que ainda faltava. A Caixa de Música é um objeto mágico que transporta Carolina (século XIX) e Beatriz (século XXI) para as respectivas épocas. Elas não apenas trocam de lugar, mas também de corpo, assumindo as identidades uma da outra.
Os leitores podem esperar protagonistas fortes, que amadurecem ao longo da narrativa, um romance de aquecer o coração, personagens coadjuvantes cativantes e muitas camadas de reflexão sobre a evolução da sociedade e o papel da mulher ao longo do tempo. É uma leitura rápida e envolvente, ideal para quem gosta de histórias sobre viagem no tempo, se interessa por moda, pelo Rio de Janeiro antigo, pela obra de Machado de Assis (que faz uma participação pra lá de especial na trama) ou simplesmente busca algo leve para ler num fim de semana chuvoso.
Como referência, inspirei-me em filmes como “A Casa do Lago” e “Em Algum Lugar do Passado” para compor a atmosfera mágica e nostálgica da história.
5. Tem alguma novidade vindo por aí? Aliás, sei que você não vai conseguir vir para a Bienal do Livro. Mas quem quiser ver de perto as suas obras, onde elas podem ser encontradas?
R: Sim! Fui contatada pela editora L&PM, que está interessada em publicar uma nova edição de “Além do Tempo e Mais Um Dia“, originalmente lançado em 2015. Ainda não temos uma previsão exata de quando ele voltará a ser distribuído, mas a nova edição deve sair ainda este ano.
Esse livro conta a trajetória de um brasileiro, desde a infância até a vida adulta, em sua jornada para se tornar campeão mundial de corrida. Após contrair poliomielite e amputar as pernas, ele sonha em competir nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, em igualdade de condições com atletas não deficientes.
Em 2015, quando escrevi essa história, próteses de corrida ainda eram acessíveis apenas a atletas de elite e cercadas de debates sobre limitação e vantagem. Naquele tempo, o esporte paralímpico ainda era tratado pela mídia mais como curiosidade do que como excelência esportiva. Por isso, a editora fez uma leitura sensível da obra original, e juntos trabalhamos para construir uma nova edição, que valorize essa transformação — afinal, chegamos felizmente a um tempo em que os paraatletas passaram a conquistar mais espaço, respeito e visibilidade. Não por serem “exemplos de superação”, mas por serem, simplesmente, atletas extraordinários.
Além disso, tenho três projetos em andamento — todos romances, e, dessa vez, sem elementos de fantasia. Dois deles com uma pegada mais YA, embarcam na onda coreana e são voltados ao público que ama doramas (mas não se limitam a esse universo!).
Infelizmente, não estarei presente nesta edição da Bienal, mas “A Caixa de Música” estará disponível no estande da V&R Editora. “Um Herói Para Ela“, publicado em 2014, ainda pode ser encontrado em alguns estandes ou na Amazon. Todos os meus livros — incluindo “Além do Tempo e Mais Um Dia” e “A Última Nota” — também estão disponíveis em versão e-book.
6. Pergunta clássica do PJ: se pudesse salvar três livros de um incêndio fictício na sua biblioteca particular, quais seriam as escolhas?
R: “O Diário de Anne Frank” (Anne Frank), “A Hora da Estrela” (Clarice Lispector) e “O Segundo Sexo” (Simone de Beauvoir). ♥
***
É isso, pessoal. :) Espero que tenham gostado dessa entrevista, que aparentemente tá grandinha, mas muito enriquecedora. Aliás, obrigada por ter topado Lu! Demorei muito para enviar as perguntas, mas finalmente foi!
Em breve, quero ler “A caixa de música“, que já tenho um exemplar aqui em casa (e um dia vou ter a minha dedicatória, que infelizmente, por conta da correria, não consegui na Bienal de SP). E ansiosa para os novos livros! Quem quiser acompanhar a Lu, só seguir no Insta. Ela é super acessível e querida! ♥
Agora quero saber: já conheciam a escritora? No mais, podem opinar à vontade.
Beijos, Carol. ^^
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